O nosso projeto educativo, com os seus valores de criança respeitosa associados à defesa da língua, da terra e da justiça social, dá continuidade à nossa maneira de entender a educaçom abrindo horizontes: fora do calendário escolar, além das idades de escolarizaçom que abrangemos e fora dos recintos dos nossos edifícios. Com este fim, nasce no verao de 2024 umha iniciativa enquadrada dentro da denominada “pedagogia do tempo livre” . Nestes eventos as adolescentes tecem redes de afecto nutridas por valores como o ambientalismo, a consciência linguística e cultural, o conhecimento do nosso património e da nossa história nacional, assim como a prática de desportos de base e a organizaçom das nossas festas porque “o povo que canta nunca morre”.
A estrutura nacional das Escolas de Ensino galego decidiu baptizar com o nome de Ultreia a esta nova expressom do nosso movimento social, umha denominaçom que nos fala do florescer do Galeguismo dos anos 30 do século passado.
A organizaçom juvenil nacionalista Ultreia foi um nutrido colectivo da mocidade galega que tem o seu nascimento na vila de Noia em 1932. Foi naquele momento especialmente fértil onde, por iniciativa do Álvaro das Casas, medra entre a juventude galega umha experiência maciça de pedagogia social que chega a ter em poucos anos mais de 3.000 filiados.
A estrategia plagia ao nacionalismo vasco e catalam (Palestra) e bebe dos celebres Sokols da Bohémia. Constituia um fenómeno europeu onde convergiam diversas ideologias seducidas polo eclossom do romanticismo.
Nos Ultreia a esquerda e a dereita convivia (ao igual que nos princípios do Partido Galeguista), mas a liderança de Álvaro das Casas, personagem poliédrico, contraditório e misterioso, foi incontornável.
Manuel Rei Lado escreveu em 1934 no jornal:
“O Granell está fala que te fala dándo un mitin, apropósito dos ultreyas. Dí que si todos os mozos galegos estivesen na nosa organización Galiza sería outro pobo, unha verdadeira nación como debe ser. O Granell é comunista, pero en moitas cousas ten razón. Eiquí temos de todo: rapaces das dereitas e das izquierdas, xentes de familias ricas e pobres, pero nos levamos tan ben, querémonos tanto, que entre nós non hai disgustos e todos somos como verdadeiros irmáns”.
As actividades som espectaculares. Roteiros guiados por Parda Pondal, visitas a laboratórios, aulas impartidas por Castelao, ediçom de cancioneiros, palestras de Casto Sampedro, excursions por terra e mar,obradoiros com Rafael Dieste, conversas de arte com Granell ou Dias Valinho, conferencias com Outeiro Pedraio, excavaçons arqueológicas, “xeiras docentes” em colaboraçom co Seminário de Estudos Galegos, representaçons teatrais, organizaçom de bibliotecas e museus… umha interminável listagem de atividades inundam a história das Ultreia.
A música era central. A poesia galega musicada e os cantos populares eram constantes. Editarom vários cancioneiros e este caracter musical chegou a ser senha de identidade. O hino da organizaçom foi o «Deus Fratesque Gallaecia» de Alfredo Branhas.
As Escolas de Ensino Galego querem com este baptismo fazer umha homenagem (mais umha!) a umha entidade histórica do nosso pais.
Reproduzimos, a seguir, o decálogo fundacional das antigas Ultreias:
I Porque amo a Galiza com toda a minha alma, dedicarei-lhe os meus melhores esforços para torná-la eternamente feliz.
II Porque a vida está cheia de mágoas, minha mocidade será umha alegre cançom que há erguer o espírito de todos os coitados.
III Porque estou afincado ao chao nativo e jamais hei quebrar as ligaçons com a minha gente, manterei sempre acesso o fogo do meu lar.
IV Porque penso no que fum, no que som e no que tenho de ser, respeitarei as pessoas velhas e pequenas e defenderei-nas de toda a aldragem e sofrimento.
V Porque quero a eficácia do meu labor, ajudarei os nobres desejos dos meus companheiros como quigera que me ajudassem na arela dos meus limpos sonhos.
VI Porque tenho de ser homem útil à minha Terra, cumprirei todas as minhas obrigas para ir fazendo a minha história de cidadao exemplar.
VII Porque quero limpar a minha ajuda de erros, educarei o meu espírito no estudo e no trabalho.
VIII Porque tenho de ser rijo na ajuda aos meus irmaos, fortalecerei o meu corpo na claridade das águas e no ar das montanhas.
IX Porque sonho num porvir de verdadeira fraternidade, farei por que a rente de mim se junte toda a rapazada galega para que o dia de manhá nom nos afastem preconceitos de casta.
X Porque quero umha Galiza inteiramente galega em convívio com todas as razas, em fala com todas as culturas, abrirei o meu peito a todas as pessoas de boa vontade e reta intençom.